sábado, 24 de novembro de 2012

Graffiti+Ciência


Essas são algumas fotos de um graffiti que está ao lado do Museo Argentino de Ciencias Naturales aqui de Buenos Aires, no Parque Centenário. A temática é "ciência", mas tem algo na mistura de estilos e cores que me grita "pop-hipster-latino". Não preciso dizer que acho fenomenal.


Existem também algumas frases de pessoas presumidamente famosas que acompanham algumas partes do painel. Digo presumidamente porque sou inculto demais para saber e preguiçosos demais para procurar.

(clique nas imagens para ver em formato de slide-show)






"As conquistas cientificas só servem se estão ao serviço do povo" -Ramón Garrillo

Nota mental: não esquecer de perguntar para o sr. Garrillo qual é a utilidade para o povo de análises de evolução morfológica de Caniformes.






"Não somos donos da terra. Somos parte dela"



"A ciência não tem pátria, mas o homem da ciência têm" -S. Houssay
Com nota especial para:


Essa para mim é fantástica. Não apenas mistura lhamas (ou guanacos? Vai saber...), um átomo e um senhor extremamente bem vestido em posição emblemática. Na minha opinião só faltou uma coisa: gravatas-borboletas. Para o cara, para a lhama, para o átomo. Gravatas borboletas nunca são demais.

Duvidam? Cliquem aqui.
I rest my case.

sábado, 17 de novembro de 2012

Estado Laico? Não nesse país!


Faz um certo tempo que não tenho tempo de bloggar, e por isso peço desculpas para os eventuais leitores. O fato é que comecei minhas viagens de coletas de dados, o que tem sugado a maior parte das horas dos meus dias e dos dias da minha semana, isso sem contar que fico sem acesso a um computador a maior parte do tempo durante os fins de semana. No presente momento estou visitando o Museo Argentino de Ciencias Naturales, em Buenos Aires e devo permanecer mais algum tempo por aqui. Apesar de trabalhar todos os dias em Buenos Aires, estou em uma pequena cidade chamada San Miguel e pego o trem todos os dias para o museu. É bastante cansativo, o que limita ainda mais meu tempo e animo.

Entretanto, não pude deixar de notar a-não-tão recente controvérsia a respeito da remoção da frase "Deus seja Louvado" das cédulas de Real. Digo que não é uma controvérsia recente pois, se bem me recordo, tal questão começou quando o procurador do Ministério Público Pedro de Oliveira requisitou que o Banco Central removesse a frase das cédulas de Real. Em resposta a isso, o Banco Central argumentou que o pedido sofria de "vício de origem", o que é o jeito jurisdiquez de dizer que a você apresentou o papel no guichê errado. Logo em seguida, a LiHS lançou um abaixo assinado que pedia ao orgão correto (o Conselho Monetário Nacional) que a remoção fosse feita. Paralelamente, o Ministério Publico afirmou que iria pressionar o assunto. O quanto tais eventos estão interconectados, eu não sei dizer.

Eu não acredito que tenha muito a contribuir com a discussão. Minha posição é simples: se almejamos um estado laico e igualitário de fato, a remoção é um passo simples. Não engulo argumentos sobre como a frase é um reflexo de nossa história cristã pelo simples fato de que a a frase nem 30 anos tem. Se é reflexo de alguma coisa, é reflexo da nossa democracia engatinhante da década de 80, e tão passível de revisão quanto qualquer lei e decreto feita dentro desse próprio contexto.

Mas o que gostaria de compartilhar é algo que encontrei nas minhas andança por aqui. A foto abaixo é de uma pequena capela que está no meio de uma pista de esportes muito movimentada aqui da vizinhança. A imagem no começo do post é de um Santo que está em seu interior (presumidamente San Miguel).

Capela
Até ai, nada de muito impressionante, exceto pelo que encontrei do outro lado da construção:

"Capela construida e mantida pelo município de San Miguel"
E, caso vocês estejam se perguntando, não há uma sequer menção a Deus nos Pesos Argentinos.

Não sei ao certo o ponto disso tudo, mas achei irônico que um país que tenha passado por um processo de laicização, como a Argentina, o dinheiro público ainda seja usado para construções religiosas. Irônico, mas não inesperado.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Pesquisa sugere relação entre chocolate e Nobel

Um novo artigo publicado no New England Journal of Medicine procurou a associação entre consumo nacional de chocolate e o número de ganhadores do premio Nobel originários daquele país. Segundo o artigo, tal avaliação se justifica pelo fato de que flavonóides, abundantes em vegetais de consumo, são conhecido por apresentar efeitos positivos nas capacidades cognitivas.

Os resultados são impressionantes:


Notem que o Brasil está lá no fundo, sem nenhum Nobel e com um consumo muito pequeno de chocolate.

Segundo os autores:
Existe uma correlação linear significativa (r=0.791, p<0.0001) entre o consumo de chocolate per capita e o numero de ganhadores do Nobel por 10 milhões de pessoa em um total de 23 países.
Para quem não sabe, o coeficiente r de correlação (também chamado de correlação de Pearson) vai de 0 até 1. Ou seja, um valor de aproximadamente 0.8 é bastante alto! Pessoas propõem terapias contra cancer por coeficientes menores.

De qualquer forma, a inspeção do gráfico revela que a Suécia apresenta muito mais ganhadores do Nobel do que o esperado, e isso não passa desapercebido pelos autores:
Dado que seu consumo de chocolate per capta é de 6.4 kg por ano, nós estimamos que a Suécia deveria ter produzido um total de 14 laureados do Nobel, porém nós observamos 32.
e eles especulam quais são as causas  desse grande viés:
Visto que o numero observado excede o esperado por um fator de 2, não podemos escapar a noção que ou o Comité do Nobel em Estocolmo tem algum viés patriótico quando avaliam os candidatos para os premios ou, talvez, os suecos são particularmente sensíveis ao chocolate, e mesmo quantidades minúsculas podem aumentar consideravelmente sua cognição.
Entretanto, pode-se argumentar que "Correlação não implica em causalidade", o que significa que a presença de uma forte correlação não significa que uma coisa causou outra, ou mesmo vice-e-versa. Os autores estão plenamente cientes disso:
Uma segunda hipótese, de causação reversa- isso é, que uma melhor performance cognitiva estimula o consumo nacional de chocolate- deve também ser considerada. É concebivel que pessoas com capacidades cognitivas superiores (i.e. cognoscência) são mais conscientes dos benefícios do consumo de flavonoides em chocolate escuro e são mais inclinados a aumentar o seu consumo.
e ainda
Que receber o premio Nobel levaria ao aumento do consumo de chocolate em nível nacional parece improvável, apesar de que talvez os eventos celebratórios associados com essa honra singular podem desencadear um aumento generalizado porém transitório.
Hum... certo... Bom, se a ciência diz, então provavelmente está certo!

Referência

Messerli, F. (2012). Chocolate Consumption, Cognitive Function, and Nobel Laureates New England Journal of Medicine, 367 (16), 1562-1564 DOI: 10.1056/NEJMon1211064

terça-feira, 9 de outubro de 2012

13 Posters fantásticos sobre divulgação científica.

Via buzzfeed.

Abaixo reproduzo 13 posters de divulgação do Museu de Ciências de Vancouver chamado Science World, com suas respectivas traduções.

Com tanto brasileiro indo pro Canadá, eu fico aqui pensando se não poderíamos trazer alguns canadenses para cá.

Todos os anuncios são seguidos do slogan do museu: "Nós podemos explicar". Eu gostei.


"Mosquitos adoram a cor azul"


"Você engole um litro de catarro todo dia"



"Você pesa menos durante a descida".
"Balanças foram montadas dentro de elevadores comerciais e residenciais, permitindo que os passageiros testassem esse fato."

"O coração de uma baleia azul é do tamanho deste carro."



"Você come 430 insetos todo os dias por um ano"


"Você tem [haeck: aproximadamente] dois metros quadrados de pele"

"Mijo de gato brilha sob luz negra"


"Seu corpo tem carbono o suficiente para encher 9000 lápis"

"Dois medos mais comuns: Palhaços e alturas"



"Tigres usam caixas de areia"






"Você vê melhor quando está assustado"






"Você peida um balão de gás por dia"



"57 gramas de ouro podem cobrir um outdoor"

[haeck: Esse cartaz nunca poderia ser feito no Brasil. Pensando bem, nem mesmo o dos lapis. Ou quem sabe o da caixa de areia...]

domingo, 7 de outubro de 2012

Bebês são amorais (e porque publicar seus resultados)


Em 2007, Hamlin e colegas elaboraram um experimento para avaliar a moralidade inata de infantes. Especificamente, esses pesquisadores queriam investigar a capacidade de avaliação social, ou seja, a capacidade de discernir entre indivíduos considerados bons dos indivíduos considerados ruins, algo essencial para a construção de nossas normas morais e de nosso convívio em sociedade.

Este estudo foi desenhado de forma relativamente simples. Os bebês eram expostos a uma cena onde um personagem (a bola rosa com olhos) tentava escalar uma colina. Em um dos casos, o escalador era auxiliado por um ajudante (triângulo amarelo) a subir a colina e no outro caso o escalador era impedido de atingir o topo por um terceiro agente (um cubo cinza).

Caso onde o escalador era auxiliado na sua escalada


Caso onde o escalador era impedido de atingir o topo.

Após as cenas, era dada aos bebês a possibilidade de fazer uma escolha entre dois personagens. Em um dos casos, os bebês podiam escolher entre o ajudante e um personagem neutro, e em outro caso eles podiam escolher entre o personagem neutro e o impedidor. No primeiro caso, os bebês escolhiam preferivelmente o ajudante ao personagem neutro, e no segundo caso, eles preferiam o personagem neutro ao que atrapalha. Isso é impressionante porque mostra que o bebê não apenas prefere "ajudantes", como também repudia "impedidores". E tem mais: isso mostra que os bebês conseguiam reconhecer a narrativa apresentada, atribuindo personalidades aos personagens, identificando intenção e objetivo (como isso não é o ponto do artigo, suponho que isso já fosse conhecido, mas achei digno de nota). E tudo isso em bebês de 6 e 10 meses! Bastante impressionante de fato!

Porém Scarf e colaboradores, ao investigarem os vídeos do procedimento experimental de Hamlin e colegas, notaram uma coisa estranha: no caso em que o escalador é auxiliado, ao terminar o seu percurso, ele chacoalha (presumidamente para passar a ideia de satisfação), porém isso não acontece quando ele é impedido de subir. Esses pesquisadores suspeitaram que o que estava acontecendo ali não era uma avaliação social, mas sim uma simples associação: coisas que chacoalham são mais atraentes para bebês e chamam a atenção. Sendo assim, a escolha pelo ajudante seria uma função do chacoalhar do escalador ao fim do percurso, uma hipótese que me parece intuitivamente válida. Afinal, bebês não são criaturas particularmente brilhantes, e todo pai sabe que eles são atraídos por cores fortes, por sons e por movimentos.

Para testar tal hipótese, a equipe de Scarf replicou o experimento, porém agora adicionando o "chacoalhar" seja quando o escalador conseguia chegar ao topo, seja quando ele era impedido de chegar ao topo e retornava ao cume. Cada bebê observava mais de um evento, delimitando 3 tipos de tratamento:
  1. No primeiro grupo os bebês viam o evento "ajudado" com chacoalhar e o evento "impedido" sem chacoalhar (grupo "Top" da figura);
  2. No segundo, os bebês viam ambos os eventos com o chacoalhar, tanto quando o escalador era impedido de chegar ao topo, quanto quando ele atingia o topo (grupo "Both)";
  3. No último grupo os bebês viam apenas o episódio "impedido" com um chacoalhar, e enquanto o não o "ajudado" não apresentava a chacoalhada (grupo "Bottom").
A previsão dos pesquisadores é simples: se o chacoalhar é o que determina a escolha do bebê, então veríamos que no primeiro grupo, mais bebês escolheriam o ajudante e que no ultimo grupo, mais bebês escolheriam o impedidor, enquanto no segundo grupo, onde existe chacoalhada em ambos os casos, os bebês selecionariam os personagens aleatoriamente. E os resultados são perfeitamente consistentes com tais previsões:

Porcentagem de bebês que escolhem os personagens nos 3 grupos experimentais : Primeiro grupo ("Top"), Segundo grupo ("Both") e Terceiro grupo ("Bottom"). O tamanho das barras indica a porcentagem de bebês que escolheu um dado personagem, e a cor da barra indica o personagem escolhido: Amarelo- Ajudante; Azul- Impedidor.
Curioso que a proporção de bebês que seleciona o personagem quando há o chacoalho é similar no primeiro e último grupos (da minha parte eu ficaria feliz com umas barras de erro nisso aí). De qualquer forma, a hipótese de associação simples (ou seja "coisas coloridas, que chacoalham e fazem barulho são mais legais") explica muito melhor os dados do que a de que bebês conseguem atuar em cima de alguma forma primitiva de julgamento moral. Sendo assim, tal capacidade (como vista em seres humanos adultos) seria adquirida em um momento posterior no desenvolvimento, presumidamente por aprendizado social.

Esse tipo de debate é interessante por vários motivos óbvios, mas pelo menos por um não-obvio e bastante importante: divulgação de dados científicos. Tal discussão jamais teria ocorrido se os autores do primeiro trabalho não tivessem divulgado vídeos demonstrando seus procedimentos experimentais, possibilitando o segundo grupo de pesquisadores replicar e testar os seus achados. Por mais que fique a sensação que o primeiro grupo pisou na bola (e pisou), foi sua honestidade que possibilitou a descoberta do erro e do avanço do conhecimento.

Parafraseando Robert Price: Todos os resultados de investigação honesta contém em si as sementes da sua própria destruição. Acho que essa é um ótimo ideal a ser seguido.

Isso, e nunca confiar em bebês, pois eles são um bando amorais. Sempre desconfiei.

Referências
  Hamlin, J., Wynn, K., & Bloom, P. (2007). Social evaluation by preverbal infants Nature, 450 (7169), 557-559 DOI: 10.1038/nature06288

  Scarf, D., Imuta, K., Colombo, M., & Hayne, H. (2012). Social Evaluation or Simple Association? Simple Associations May Explain Moral Reasoning in Infants PLoS ONE, 7 (8) DOI: 10.1371/journal.pone.0042698