Original: John S. Wilkins, evolvingthoughts.net
Revisão: Fernando Marquete
Humanos, assim como outros primatas, comem principalmente raízes, vegetais e nozes, mas irão comer carne quando disponível. Carne é uma valiosa fonte de proteínas e outros recursos nutricionais, e não pode ser desperdiçada. Mas, apesar dessa ser uma afirmação de fato, ela não é uma afirmação de obrigação ou permissão moral. Eu irei argumentar que nossa história evolutiva torna a ingestão de carne não apenas inevitável, mas algo que vale a pena, apesar de que eu não advogaria em favor da quantidade de carne que ingerimos hoje no mundo ocidental.
Existem muitas teorias de ética, mas uma das mais antigas e influenciais é a visão que pode ser traçada até Aristoteles: a Boa Vida é aquela que leva ao florescimento da vida humana. Isso é chamado de "eudaimonia" em Aristoteles. Agora, dessa perspectiva, o que devemos fazer é o que contribui para a eudaimoni, e por acaso todos concordam que humanos evoluíram para, e se desenvolvem melhor quando, comem uma dieta primariamente constituída de matéria vegetal, com uma pequena quantidade de carne, a famosa "pirâmide alimentar" da escola primária. Existem nutrientes que humanos requerem que a carne provêem e são impossíveis ou muito difíceis de serem obtidos de outra forma.
Eudaimonismo é uma ética "espécie-relativa". Diferentemente da ética universal do vegetarianismo, direitos e deveres morais não são necessariamente estendidos para outras espécies, mas eles se aplicam à todos os humanos. Em "Expanding the Circle" (Expandindo o Circulo), Peter Singer argumenta que direitos morais são universais a todos os seres sencientes; uma visão eudaimoniana não presume isso. Esse é o universalismo de Kant, não de Bentham. Nós sabemos que todos humanos têm direitos e posturas morais; nós precisamos saber com que base nós devemos conferir direitos a animais. Nós presumimos que membros da especie humana têm uma natureza moral.
Sociedades escolhem conferir direitos baseados nas propriedades morais das pessoas. Pode ser objetado que essa visão faria crueldade contra animais permissível. Isso não procede. Como Kant notou, crueldade contra animais afeta seres humanos, degradando sua natureza moral, e apenas com base nisso ela deveria ser proibida. Mas nós podemos também conferir direitos para não-humanos com base no fato de deterêm algumas ou todas as propriedades morais dos humanos. Por exemplo, adultos de grandes primatas tem as capacidades cognitivas aproximadas de uma criança de três à cinco anos; e então eles deveriam ter os direitos e proteções conferidas a aqueles humanos.
Portanto não devemos comer, ou permitir que comam, grandes primatas ou outras espécies com capacidades cognitivas comparáveis. Mas os animais de abate não estão nessa classe (e aqueles que estão, em algumas culturas, como cachorros, deveriam ser excluidos da categoria de "animais de abate"). Nós deveríamos demandar que animais sejam abatidos (e criados) de forma humana (ou seja, sem crueldade ou dor), mas isso não é o suficiente para que seja proibido consumi-los.
Uma implicação disso entretanto é que nós devemos fazer todas as coisas que contribuem para o florescimento humano, e que isso irá incluir a redução da quantidade de carne ingerida, por vários motivos: muita carne leva a várias doenças, desde gota até problemas cardíacos; carne é um recurso caro e ultimamente insustentável nos níveis atuais; e animais de abate são rotineiramente invasores e ecologicamente nocivos.
Em todas as coisas, proporcionalidade é a chave para o florescimento. Muito de qualquer bem pode se tornar um mal. Um pouco de carne é bom; muito dela é um mal. Isso também é uma visão antiga dos gregos. Epicurianos diziam que o prazer é bom, mas muito dele não é. Em contraste com os extremismos do vegetarianismo, todas as coisas, em moderação, para o florescimento da humanidade, este é o caminho.
5 comentários:
Cara esse assunto esta se tornando um dilema pra mim.
Não sei se como carne ou nao pra mim tanto faz comer ou nao nao gosto nem desgosto, se puder me add no skype pra nos batermos um papo por texto mesmo: lucastoith
Oi Toith,
Desculpe, mas não sou um usuário constante de skype.
De qualquer forma, não sei se te ajudaria muito nesse assunto. Apenas coloquei esse argumento por ser um dos raros exemplos de um argumento moral em favor do consumo de carne. Eu como carne, obviamente, mas não tenho bons motivos para isso. Pararia de comer carne sem problemas, e de fato fico longos períodos sem comer.
Provavelmente irei escrever mais sobre isso no futuro.
Talvez ajude na decisão, eu sou vegetariano a 4 anos e meio por uma decisão política, não concordava com a forma de agir da indústria agropecuária, e nunca tive restrições de saúde por isso. Inclusive corro em corridas amadoras de 5km e pratico esportes, apesar de comer um volume um pouco maior de comida. Sou consciente ao ponto de saber que o consumo de carne (moderado, não excessivo) não é maléfico, ao mesmo tempo em que não é essencial. Desenvolvemos uma plasticidade fisiológica enquanto seres humanos que nos permite escolher se queremos ou não consumir carne baseado nas nossas influências sociais, e é claro, gustativas. Então avalie se você acredita nas motivações políticas para tal e se é capaz de contornar o seu desejo gastronômico, para ser feliz e firme com sua escolha.
Eu não acho haver problema algum em comer carne de camarão ou marisco, por exemplo. Agora, de peixe para cima, em ordem de complexidade do sistema nervoso, acho que a questão é mais complicada.
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